12.2.10

WORLD PRESS PHOTO 2010; UMA VISTA DE OLHOS.

 


   


 
 De cima para baixo; A manifestante iraniana Neda Agha-Soltan jaz baleada num frame de video amador; "Matadouro" de Tommaso Ausili, e "Katie, Hungry Horse, Montana" de Pieter Ten Hoopen.

Os prémios World Press Photo (WPP) de 2010 tiveram nesta edição alguns pontos dignos de nota. O mais interessante, é a atribuição de uma menção especial a um still frame  de um video amador rodado nos motins pós-eleitorais iranianos, e que o Youtube popularizou globalmente. Sobretudo por David Griffin, membro do júri, se dizer "agradado por o WPP  ter aberto caminho a imagens não-profissionais com significativo impacto no registo histórico visual". Estamos perante o que me parece ser um primeiro ( e lógico e inevitável) passo da veneranda instituição em direção ao cada vez mais inelutável fenómeno do jornalismo visual praticado pelo cidadão-repórter. Abstenho-me de repisar as vantagens que o grande público pode (ou não) tirar deste fenómeno, e os prejuízos e os riscos que não cessam de se agravar para o fotojornalista de "on the spot" e "hard news".
É também curioso verificar que o grande prémio desta edição, também ele captado nas eleições iranianas, situa-se nos antípodas formais do murro no estômago do anterior, parecendo configurar uma vontade do júri de aproximação a um registo mais subliminar, que por seu turno não será certamente consensual entre vasto número dos profissionais.


Trabalho de cidadão repórter é o que não é o ensaio do italiano Tommaso Ausili, 3º classificado de reportagem na categoria  de temas contemporâneosA sua série de um matadouro,  por onde passa a sombra de um terrível humor negro, faz-nos olhar com outros olhos para o bife no nosso prato, funcionando como um surreal e poderoso manifesto vegetariano. Fotografia de causas pura e dura.

Sobreveio-me também no meio desta e das outras habituais imagens-choque, o 2º lugar da categoria de retratos do holandês Pieter Ten Hoopen. É sempre bom ver que, também para o WPP, no meio da carnificina continua a haver lugar para a paixão erótica.
Fim-de-semana prolongado à porta, boa ocasião para ver tudo isto.

6.2.10

DINIZ MACHADO, O TÓPÊ, E A PERENIDADE DA BELEZA E DO TALENTO.

                                                          O Tópê, fotógrafo (in)tranquilo.


Li algures uma citação do saudoso Diniz Machado, que a propósito destes acelerados tempos de constantes mudanças tecnológicas e de costumes, dizia que o homem contemporâneo sente um inapelável sentimento de desancoramento e perda, face a uma realidade que requer reinterpetrações constantes.
Lembrei-me disto ao visitar a exposição que o António Pedro Ferreira mostrou recentemente na Kgaleria, que era balsâmica e retemperadora em relação a estas angústias. A (in)tranquila elegância formal daqueles 35 mm integrais a preto e branco, com o seu belo grão, sábiamente preenchidos de ponta a ponta, e que denunciam sem gritar uma realidade madrasta, fizeram-me lembrar (a mim e certamente a muitos da minha e de outras gerações), a razão porque, num dia cada vez mais distante, me deixei seduzir pela fotografia. 
E reforçar a certeza de que a beleza e a qualidade plástica, seja em que disciplina for, é imune aos modismos visuais e à vertigem tecnológica. De parabéns o nosso querido Tópê, e também a Kgaleria, por nos ajudarem a relembrar estas evidências.

Saber tudo, aqui.