12.7.13

DON McCULLIN: TOMAR PARTIDO ENQUANTO FOTOJORNALISTA



O trabalho do fotojornalista britânico Don McCullin (Londres, 1935), foi um dos responsáveis maiores pelo interesse que eu e muitos da minha geração desenvolvemos pela arte da reportagem fotográfica.

As suas façanhas no Vietname, Biafra, Chipre (World Press Photo de 1964), Irlanda do Norte e outros teatros da tragédia entraram pela porta grande na história do métier.

Dele convido-vos a ver atentamente o video acima onde a partir do minuto 3:20, McCullin assume frontalmente ter encenado uma das suas fotos mais reconhecidas, na qual o cadáver de um soldado norte-vietnamita jaz rodeado pelos seus pertences íntimos. Descreve o fotógrafo que as tropas norte-americanas que o haviam abatido, pilharam de seguida os parcos pertences do inimigo caído, numa manifestação da miséria humana que empesta os campos de batalha.

Don McCullin, figura romântica à la Capa, ficou tão perturbado pela cena, que decidiu nas suas palavras, "(...) I`m going to make something out of this situation(...)", dispondo então as fotografias de familia do soldado caído à sua volta, no que entendeu ser uma homenagem à sua tragédia e um desagravo pela indignidade sofrida. A imagem tornou-se icónica como libelo contra uma guerra absurda sobre a qual a história já fez o seu juízo.

Os problemas que esta foto e a sua feitura levantam são óbvios à luz do mito da observância de objectividade não interventiva que é exigida aos fotojornalistas.

Batota sem desculpas, gritarão muitos. Outros poderão contrapor que o fotógrafo, ao tomar partido de uma forma tão aberta, colocou-se apenas no mesmo patamar de muitos dos seus colegas redactores, que constroem a prosa de modo a ecoar nos leitores a sua sensibilidade sobre a realidade e os acontecimentos.

A fotografia, como o Mundo, não é de facto uma coisa a preto e branco, e hoje é a esta reflexão que vos convido.