25.12.09

DE OBAMA A KHADAFI, OU AS BORBOLETAS DO PODER






  








Richard Avedon. Os Duques de Windsor, 1957




                                                                                                 




                                                                                                                                                         Platon. Muamar Khadafi, 2009
                


Existe um documentário em que Richard Avedon, a propósito do seu famoso retrato dos Duques de Windsor, conta que a duquesa, furiosa com o resultado,  lhe jurou que, "havemos de o destruír". Acrescentou a seguir, que considerando os patifes anti-semitas que eles eram, até achava que os tinha tratado muito bem.

Aconteceu a "Edward & Mrs. Simpson" o mesmo que a muitas outras figuras do poder, político ou social, que sempre foi atraído pelo glamour dos fotógrafos famosos, como borboletas pela luz. Seguindo a tradição da pintura clássica, e perante a promessa de imortalidade que o sortilégio da imagem fixa representa, arriscam baixar a guarda de uma imagem laboriosamente construida, num exercício que deve por os nervos em franja aos assessores de imagem, cuja cabecinha é a primeira a rolar, caso a coisa corra mesmo mal.

Esta relação foi há pouco tempo reforçada por um notável "tour de force" desenvolvido pela "New Yorker"numa recente reunião das Nações Unidas. Em meses de negociações de bastidores, a revista conseguiu autorização para que o seu fotógrafo-estrela do momento, o britânico Platon (Londres, 1968), instalasse um mini-estúdio à entrada do aerópago, com carta branca para arrebanhar os dignatários que se dispusessem a uma sessão foto.  Os retratos de Platon, apesar de alheados das motivações ideológicas de que Avedon dava eco, têm normalmente um toque desconcertante, parecendo uma  surreal mistura de cartoon com hiperrealidade. Assim, é sabido que quem alinhe na coisa, não é garantido que fique com uma daquelas fotos para por no jazigo. E no entanto, em 5 dias frenéticos, dezenas das mais ilustres "borboletas", de Obama a Ahmadinejad, de Lula a Khadafi, lá se sentaram para a objectiva. Os resultados são magnificamente divertidos, e adorava ser mosca para saber o que foi dito nas chancelarias deste mundo.

Grandes momentos, cujas perípécias são imperdíveis  aqui.

1.12.09

EM ROMA, TRATAR OS ROMANOS COM RESPEITO.



                   © Marco Baroncini, 2009



O incontornável lens mostrou-nos recentemente mais um belo momento de fotojornalismo, desta vez da responsabilidade do italiano Marco Baroncini, (1972).
 O assunto da sua história, os ciganos de etnia Roma, estavam (estão) literalmente ao virar de todas as esquinas. O incómodo que a sua presença causa, torna-os virtualmente invisíveis aos seus compatriotas romanos, numa reacção de autodefesa que todos os urbanos tão bem conhecem. Baroncini olhou, e com respeito, sensibilidade e método, fez pacientemente aquilo para que durante anos se treinou; através da imagem fixa, trouxe para o seu público mais uma peça para o mosaico da sua contemporaneidade.


Esta reportagem, na aparência semelhante a tantas outras, captou-me a atenção por evocar alguns temas sobre os quais gosto de reflectir. Em primeiro lugar, uma abordagem visual que vive no respeito pela dignidade do outro, onde o relato da crueza das circunstâncias não cede a um neo-realismo tardio, miserabilista, e de "choque", que em muitas ocasiões semelhantes é armadilha fatal. 
E também, no reafirmar da superior eficácia da imagem fixa como instrumento de comunicação visual nos suportes mediáticos. Numa altura em que tantos talentosos jovens fotojornalistas, angustiados pelo Zeitgeist, procuram no cruzamento com as plataformas multimédias, modo de afirmar o seu instinto visual, a imagem que se vê acima fala-nos como um velho amor que teima em não deixar de nos seduzir.
Quantas sequências de video condensa aquele instante? Mas o melhor é ver, aqui e aqui.