28.8.11

"HERE KITTY KITTY"; LOST IN NYC E MAIS ANGÚSTIAS DA "STREET PHOTOGRAPHY"







©Zach Arias,  2011 da série "Here Kitty Kitty"


Quem foi passando por aqui, já se apercebeu que a chamada "street photography" é um dos meus assuntos favoritos de reflexão (e hesitação) fotográfica, pelas mais pedestres razões; o fascínio do espectáculo urbano, com tanta situação "a pedir" para ser roubada, versus o constrangimento que o "roubo" causa, blábláblá e etc, uma equação que já causou crises místicas em fotógrafos de verdadeiro talento. Lembro-me de numa noite distante nos anos 80 ouvir no Porto, Gérard Castello-Lopes a falar dessas angústias.

Isto como desculpa para partilhar a imagem acima de Zach Arias, fotógrafo norte-americano inicialmente dedicado á fotografia de música, mas cuja fome visual puxa naturalmente para outros mundos. Precisamente nas suas incursões pelo quotidiano de NYC (a que deu o adorável nome de código de "Here, Kitty Kitty") tropeçou em Time Square com esta singular personagem que estava a ser interpelada por dois garbosos cívicos, que segundo conta, básicamente lhe estavam a dizer para se por a mexer ("get lost lady") por não ter a necessária licença para posar para os turistas (!?). Zach acrescenta judiciosamente que "already lost" já a pobre senhora lhe parecia estar e já não devia ser de agora, acrescento eu.

Uma pequena ironia mais para o oficio do "chausseur d`images" em modo street. E a policia, uns chatos em todas as latitudes. Já não basta dar mimo aos que se amotinam quando se veem fotografados à surra, ainda espanta os que se querem deixar fotografar...

Enfim, piadolas duvidosas à parte, importante mesmo é visitar aqui o trabalho deste simpático Zach Arias.

24.8.11

DA INOCÊNCIA DOS VERÕES FELIZES.

                                                        Weegee, Coney Island 1940.

A série de workshops de fotografia que estou a co-organizar com os meus queridos Clara Azevedo e Paulo Vaz Henriques, tem a vantagem acrescida de servir de motivo para revisitar algumas imagens essenciais, às quais que nem sempre tenho voltado com a frequência recomendável.

Assim, coube-me a propósito de um elogio do uso do flash, apresentar à paciente plateia um pouco da vida e obra de Arthur Fellig "Weegee". 

Nome incontornável da história do métier,  as incidências da sua carreira estão abundantemente documentadas em todo o escrito sobre a coisa, online e offline. Ao leitor curioso, basta a pesquisa da ordem.

Para aqui basta apenas dizer que o principal do corpo de trabalho pelo qual se celebrizou, foi a documentação da cena policial, do crime e do "bas-fond" nova-iorquino, sobretudo nas décadas de 30 e 40 do século passado. Actor e testemunha em ambientes soturnos e carregados de um preto e branco de "film noir", Weegee poderia ser fácilmente apelidado de um fotógrafo da(s) sombra(s).

Mas, uma das suas imagens mais famosas, é este tão célebre quanto fantástico instântaneo obtido na praia de Coney Island em 1940.
Não sei bem bem qual foi a preparação da foto, que será uma estória dentro da história, mas para a posteridade ficou o registo de uma multidão gigante, que olha para a objectiva num mar de alegria e entusiasmo.

Será muito dificil nos tempos de desconfiança urbana em que vivemos e viveremos, voltar a congregar tantos olhares que olhem em simultâneo para um fotógrafo com tão inocente motivação.

Uma espécie de paraíso perdido, onde um fotógrafo das sombras teve o seu momento mais luminoso.