2.9.11

HOMENAGEM AOS AMADORES. O CASO VIVIAN MAYER.

 Vivian Mayer. 22 de agosto de 1956


                                                     Vivian Mayer. NYC, s/data


A minha amiga Mafalda Borges chamou-me a atenção para o caso de Vivian Mayer (1926 – 2009), uma discreta ama de Chicago e  fotógrafa amadora irreprimível, que desde os anos 50 produziu, sobretudo na companhia de uma Rolleiflex, um notável corpo de trabalho. No registo do quotidiano (ainda e sempre a "street photography") e de viagens, financiadas ao que parece com a venda de alguns imóveis de familia.

Sobre a sua vida e obra existem informações em bom detalhe aqui e aqui, derivadas do interesse de John Maloof, o responsável pela divulgação da obra da fotógrafa. Em 2007, Maloof, um estudioso da história de Chicago, adquiriu sem grandes expectativas 30 000 negativos leiloados na sequência da insolvência de Mayer, que terá passado os últimos anos de vida perto da miséria.

Segundo o dicionário, o termo "amador" refere-se "ao que, por gosto e não por profissão, exerce qualquer ofício ou arte". Longe portanto, do sentido pejorativo associado aos intrusos nas esferas às quais se associam competências técnico-estéticas especificas. 
Vivian Mayer parece ter levado esta definição ás ultimas consequências, pois do seu trabalho não houve eco até depois da sua morte, e a sua actual divulgação deve-se a circunstâncias próximas do puro acaso. Tal anonimato deveu-se não a uma daquelas injustiças de avaliação de mérito em que o mundo é pródigo, mas pelo simples facto de Mayer nunca ter mexido uma palha para que tal acontecesse, pois aparentemente nunca se preocupou em mostrar as suas fotos fosse a quem fosse. Muitos negativos foram obtidos ainda por revelar.

Não acredito que não tivesse consciência do seu valor e do interesse que despertariam. O seu olhar é o de uma esteta, e os estetas sabem do valor da beleza. Mas a sua práctica devia fazer parte  de uma catarse íntima, de um prazer cuja satisfação quase onanista tornava dispensável a validação pelo outro.

Uma espécie de meta-amadora portanto, cuja opinião que poderia ter acerca da divulgação das suas imagens, (com um livro em preparação e popular presença online), permanecerá motivo de especulação e discussão.

Em todo o caso momentos de poesia pura, que reforçam a certeza de que o carácter cada vez mais democrático da práctica fotográfica é a sua maior força, e que a contribuição do anónimo amador pode, no tijolo final da construção do seu edificio, valer tanto como a do celebrado profissional. 
Por incómoda que a ideia seja a muitos como eu.

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