15.8.09

O cão, o cervo, e o marketing nacional.








































©paulo alexandrino


No seguimento do relato dumas férias gaulesas, não resisto a partilhar uma "petit histoire", que remete para a imagem com que Portugal ainda é percebido por aquelas latitudes.
Em périplo pela Bretanha, as minhas inelutáveis tendencias burguesas arrastaram o agregado familiar para uma estadia no aprazivel dominío de Guiguilfin, nas cercanias de Quimper. No coloquial pequeno almoço que se seguiu á pernoita, o nosso anfitrião, um simpático e ultracivilizado sexagenário, conseguiu proferir umas sinceras opiniões acerca do humilde Portugal, através da eloquente comparação entre uns pedreiros portugueses que em tempos houvera contratado, gente da maior doçura e maneabilidade, apenas algo imprevísivel nos humores, e que contrastava vivamente com uns outros operários espanhóis, de um trato muito mais rebervativo.
Retorqui com elegante sugestão de visita ao Vale do Douro, onde o senhor de Guiguilfin se poderia hospedar em propriedades que não desmerciam da sua, e onde seria acolhido com pelo menos igual fidalguia. A esposa do senhor, percepcionando uma surda gaffe, alinhou um discurso acerca duma qualquer estátua de um cervo, importada da Polónia, e a coisa continuou em amena cavaqueira.
Fiquei a remoer que a projeção cultural e económica dum país depende fatalmente da sua imagem percebida, e com dúvidas que as nossas autoridades máximas tenham nesse campo uma estratégia eficaz nos mercados internacionais vitais.

E ainda, confesso com vergonha, ter pensado que caso viajasse em regime de autoférias, não me faltaria vontade de empalmar a "Phoebus", a cadela do senhor de Guigilfin, que como qualquer fotógrafo sabe, nem sequer é raça Bretã, antes um Braco de Weimar, estirpe alemã, celebrizada pelo grande
William Wegman. Era a questão da fama e do proveito, e lá contribuia eu para o desgraçado marketing nacional.

Em cima, o cão, o cervo e o domínio.

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