1.1.10

OLGA RORIZ E O ELOGIO DO ESFORÇO.


                                                         Olga Roriz conduz a audição para "A Sagração da Primavera"  © paulo alexandrino 2009





Tive recentemente ocasião de acompanhar um casting para uma companhia de dança; no caso, Olga Roriz recebia no CCB mais de uma centena de aspirantes a participar na sua futura coreografia de "A Sagração da Primavera". São momentos emocionantes. Não há amiguismos, favorecimentos, ou cunhas de faces mais ou menos ocultas que possam valer a um bailarino em audição. Só a intensidade desesperada do esforço físico e mental vale na busca do momento transcendente da comunhão entre corpo e música. Os corpos projectados num desafio à gravidade e à dor, estas criaturas dançam a alma.


A voz de Roriz é um sussurro que entre um silêncio reverente  se projecta claríssimo pela vasta sala, entrecortado apenas pela respiração ofegante dos corpos suados.
Consecutivamente, sentencia inapelável o desfecho: dos 120 bailarinos apenas 17 vão acompanhar a mestra na aventura. É sobretudo para os que partem que deixo a minha homenagem. Porque sei que de seguida, noutro auditório, perante outro juiz, voltaram a forçar as articulações até ao limite, na busca do triunfo sobre si próprios e no reconhecimento do seu valor.
É  em jeito de votos de ano novo que partilho convosco este elogio do esforço, ao qual estes maravilhosos seres nunca viram a cara, e que a todos nos deve inspirar. Porque o essencial, é não desistir perante o maior juiz de todos, nós mesmos.


Galeria de fotos aqui, relato circunstanciado e talentoso da ocorrência pela jornalista Ana Carreira aqui. Bom ano.

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