20.7.09

Três cadeiras e os seus homens.



De cima para baixo; João Rendeiro, Miguel Pais do Amaral, João Talone. Para "Exame".
©paulo alexandrino, 2007


Nos últimos anos, o género fotográfico para que tenho sido mais solicitado, cabe em traços gerais na definição de "retratos". Impôe-se, a bem da honestidade intelectual, o contraponto entre a definição etimológica do género e a forma tal como é correntemente practicado, com mais ou menos engenho, por mim e por 99% dos "retratistas" de imprensa.
Isto é; de retrato, no sentido clássico e romântico do termo, i.e, no que tem de "prescrutar a alma" e expor a personalidade do visado, a coisa tem pouco.
Parto (partimos) para cada encomenda, com uma percepção razoávelmente construida da imagem mais ou menos pública do visado, que depois, diligentemente, se tenta capitalizar e transformar numa forma que possa seduzir o espectador, sem nunca se afastar demasiado do que será a expectativa da entidade contratante e do seu público. Entramos então na vida da "vítima", como um autêntico furacão (faça isto, aquilo, agora assim, assado, aqui, ali), durante uns bons 20 a 30 minutos, findo os quais, arrumamos a tenda e nos despedimos cortêsmente até uma próxima oportunidade, que pode ser no dia de S. Nunca à Tarde, muitas vezes com a promessa, nem sempre cumprida, do envio de umas quantas fotos, como agradecimento da disponibilidade demonstrada.
...
No entanto, por vezes e de uma maneira quase fortuita, aparecem nas formas mais simples, sinais interessantes.
É nisto que penso, quando vejo esta "tripla" de retratos, que à coisa de ano e meio me foi encomendada pela "Exame". Tratava-se de retratos individuais de três importantes gestores da cena nacional, que se destinavam a ser "recortados" para uma montagem para a capa da dita "Exame". Quando lhes peço, por uma questão funcional, para se apoiarem numa qualquer cadeira que por ali estivesse é que surgem (ou não) as pistas: será que o carácter eminentemente utilitário da cadeira de João Talone, reflecte uma abordagem pragmática da vida e dos negócios?
E a cadeira, mais floreada e clássica de Pais do Amaral, diz-nos ou não algo das suas origens e da sua postura de "gentleman driver"? E será que a cadeira de "design", com o primado da forma sobre a função, com que João Rendeiro posa, nos dá pistas ou não, da forma como os deuses da fortuna deixaram de lhe sorrir?
De facto, nós somos nós e os nossos sinais. Ou qualquer um poderia ter a cadeira de um outro?

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