26.10.09

A PINA O QUE É DE PINA.



                                                               Rio de Janeiro. © João Pina

Há uns anos atrás, desloquei-me à AR para uma sessão foto com o então governante Joaquim Pina Moura.
Que me submeteu a uma  barragem de perguntas acerca do ofício de fotógrafo independente, das dificuldades e contigências de exercer a profissão no mercado nacional. O interesse justificava-se, pois tinha um filho que manifestava irreprimível empenho em profissionalizar-se, o que compreensívelmente lhe causava alguma preocupação. Respondi o melhor que pode e soube e rematei com alguma sobranceria que, por regra geral, o mercado permite a sobrevivência aos que apresentam qualidade.




Estava longe de imaginar o que dali ia sair. João Pina rápidamente se afirmou como um dos mais fulgurantes talentos da sua geração, colecionando prémios, honrarias e granjeando reconhecimento público. Precisamente por não se querer submeter apenas à sobrevivência num mercado recessivo e madrasto,  arrisca e ganha a aposta numa consequente carreira internacional. Etapa deste percurso são as suas imagens das  favelas do Rio, assunto ao qual se dedica há um par de anos. Uma dessas reportagens foi inicialmente publicada na augusta New Yorker, e recentemente difundida no "El Pais". Significativamente, ainda nenhum jornal nacional assegurou a sua publicação. Lá se confirma a elegante eficácia com que Pina obtem a dificil simbiose entre o plasticizante e o informativo, mostrando a maturidade dos grandes talentos. Trocado por míudos, parece fácil. Mas não é.




Bom Salieri que sou, vivo feliz com o talento alheio. E é necessário reconhecer que Pina é somente um dos empenhados fotógrafos que integram a KameraPhoto, agência lusa que paulatinamente tem imposto no mercado nacional um certo fotojornalismo "engagé", o que só por si já é coisa de respeito.
Dezenas de outros talentos, a inventariar em futuras ocasiões, povoam a cena fotográfica nacional, a maioria assoberbados por tarefas de ingrata e rotineira agenda e edição numa imprensa escrita que receio agonizante.




Um abraço para todos. Mas, e até porque ser fotógrafo é essencialmente um ofício solitário, o momento é de João Pina.

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