3.11.09

MERT & MARCUS - UMA COMUNHÃO VISUAL


Penélope Cruz por Mert&Marcus in Vanity Fair, Novembro 2009



A parceria Mert &Marcus, um dos valores mais cobiçados do mundo da foto de moda, é uma interessante excepção à natureza indivídual da práctica fotográfica. Começa por o espírito da sua estética não se inscrever no das megas produções à lá Leibovitz, cuja complexidade mais pode convidar à união de esforços. Pioneiros de assumida pós-produção digital, o seu trabalho vive também da contenção de adereços, de obsessiva atenção ao make-up e cabelos, servida por completa eficácia de iluminação. Sempre com o foco na aparência do modelo, que ganha absoluta e inquietante perfeição. Na Vanity Fair de Novembro, Penélope Cruz faz capa em mais um notável ensaio da dupla, que a reinterpreta à luz do grande glamour da era dourada de ícones como Rita Hayworth e Ava Gardner.
Mert Alas, de origem turca, e o inglês Marcus Piggott, ambos nascidos em 1971, iniciaram colaboração em  1994. E sim, para além da parceria fotográfica, existe entre ambos um relacionamento amoroso. Os relatos de quem os vê trabalhar contam que alternam a tomada de vistas à vez, sem nenhum guião predefenido, inviabilizando completamente as tentativas de atribuição desta ou daquela imagem a um ou a outro. 
É esta comunhão visual, que parece situar-se fora dos afectos, que acho interessante. Veja-se que Diane Arbus era casada com o fotógrafo Allan Arbus, sem que nenhuma produção conjunta de relevo (exceptuando as lineares encomendas comerciais) seja conhecida. No caso de Helmut Newton, a sua mulher June (aka Alice Springs), trilhou carreira por mérito próprio, afastada do imaginário do marido.


A plena confiança na visão estética do outro parece assim mais dificil de obter do que a da relação amorosa. Quando se faz o pleno, deve ser muito agradável.
Mais da dupla, aqui.

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