12.9.09

TRAPOLOGIA NO PORTUGAL PROFUNDO

©paulo alexandrino, 2009

Quem se afasta uns meros 15 km do brilho sazonal da costa em direção ao interior algarvio, entra no chamado "Portugal Profundo", eufemismo que um político hábil desencantou em tempos para caracterizar o atraso económico e cultural endémico que até hoje marca larga parte do "campo" nacional.

A D. Maria Antónia mora neste país, nos arredores de uma pequena aldeia, em modesta habitação num daqueles locais sem nome aonde se chega a custo, seguindo as opacas indicações orais que se conseguem recolher.

70 anos de vida dura não esmoreceram o animo e a vivacidade desta senhora que se apresenta como "trapóloga", por via dos tapetes que fabrica um pouco ás escondidas do "mê maride, que num gosta que eu ma`plique nisto".


E a D. Maria Antónia conjugou a alegria telúrica do discurso, com o olhar altivo e seguro com que enfrentou a objectiva, a fazer inveja a muitas urbanas sofisticadas, e deu-me um bom retrato.

E viemos embora a pensar, eu e a minha amiga e camarada de reportagem Nilza Rodrigues, que tinhamos estado na presença de (mais) uma penalizada dos atavismos nacionais. Na juventude da D. Maria, certamente que o interior algarvio seria uma terra muito mais madrasta e castradora do que é hoje. Noutras circunstâncias, que potencial poderia ter desenvolvido esta senhora, e muitos outros de várias gerações de "isolados"?

De facto, o "Portugal Profundo" é um jargão muito feliz e até divertido. Mas só à superfície.

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