6.9.09

HÁ REMENDOS NO CÉU.


















©paulo alexandrino


J.G. Ballard, na sua novela distópica "Kingdom Came", tinha-nos chamado a atenção para o fenómeno dos mega centro comerciais enquanto microcosmos autosuficientes, agregadores de todas as pulsões, sempre com o consumo em pano de fundo.

Lembrei-me disto, quando a pedido da "Notícias Magazine" visitei o espaço Kidzania, no recém inaugurado e gigante Dolce Vita Tejo, na periferia de Lisboa.

Em resumo, o Kidzania é uma espécie de parque infantil, que permite aos infantes o "brincar aos crescidos", na vertente da vida urbana contemporanea.
Assim, o Kidzania tem um banco onde os "cidadãos" se dirigem após o ingresso, para ter acesso á sua quota parte de "Kid dinheiro" que depois podem investir em actividades lúdico-formativas, como "tirar" a carta de condução, frequentar um centro de estética, ir á discoteca ou ao supermercado etc. Paralelamente, podem "trabalhar", seja a fazer hamburgers, num hospital, nos CTT ou no INEM, sendo naturalmente recompensados com a quantidade de "Kid dinheiro" que permite o prolongar da experiencia, que conta com a presença de "delegações" da PSP, (com direito a cela de prisão), bombeiros, tribunais e por aí fora, tudo sempre devidamente enquadrado pela presença maçica das mais reconheciveis marcas comerciais do quotidiano "real"

Visualmente, o ambiente tem um toque "
eerie" (lá é sempre de noite e há remendos no céu), um pouco David Lynch, o que torna o espaço muito interessante.

E saí dividido entre os óbvios méritos pedagógicos de algumas das experiencias propostas, e a sensação que estava na presença do "Portugal dos Pequenitos" da idade do consumo, com a Universidade de Coimbra substituida pelo Continente, e a McDonalds a fazer as vezes de Mosteiro da Batalha.

Em todo o caso, interessantes (inquietantes?) sinais dos tempos, cujas imagens convido para ver aqui, e cuja reportagem completa pela pena talentosa da jornalista Carla Susana Rodrigues pode ser lida aqui

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