11.11.09

DA INOCÊNCIA PERDIDA DA FOTOGRAFIA (E) DO FUTEBOL.


Á esquerda, "O Formidável" Fernando Marques acorre a consolar Eusébio. ©

   









De cima para baixo: Maradona em 1979, o brasileiro Jair durante um nevão num Inter-Pádua em 1962 e Geoff Hurst festeja no mundial de 1966 num momento de "arte" foto, tipo "O Independente" avant la lettre.




Um emocionante post de José Vegar acerca do desencanto que  o futebol moderno lhe causa, trouxe-me à memória a maneira com que a "Idade da Inocência" do desporto-rei era captada pelos fotógrafos de então. Actualmente, o primado das teleobjectivas causa um efeito de isolamento da acção, em espectaculares grandes planos que se repetem ad nauseam de jogo para jogo, seja um Nacional-Belenenses ou um Bayern-Inter. As celebrações das grandes conquistas passaram da subversiva e telúrica alegria (lembremo-nos de João Pinto no Prater de Viena a monopolizar a Taça dos Campeões em 87) para coreografias plastificadas entre nuvens de "confettis" onde só a cor muda, encenadas para as camaras de televisão.

Sinal dos tempos, muitas das mais estimulantes imagens são agora obtidas através de camaras fixas em locais improváveis e disparadas por comando remoto por vezes a 100 metros de distancia. Tudo num cenário onde os adeptos se enfeitam numa excentricidade mainstream, cientes da iminência dos seus 10 segundos de palco visual.
Para sempre ficou perdido o registo da envolvência da acção, com as bancadas apinhadas de uma multidão absorta, os ângulos abertos em que uma dúzia de jogadores bailavam, e a inocência com que as grandes estrelas, então livres dos milionários compromissos comerciais encaravam as objectivas.

E de histórias de futebol e fotógrafos, o nosso país tem a mais bela de todas: naquela fatídica tarde de Julho de 1966, Eusébio abandona em lágrimas o relvado de Wembley. Vejam a foto de abertura acima e reparem num sujeito, magrinho e com uma gabardina coçada que se precipita para consolar o Pantera Negra (existe uma bastante melhor do Mestre Nuno Ferrari). O homem é Fernando Marques, "O Formidável" (1911-1996), o cauteleiro de Coimbra tornado fotógrafo, que "doente" da Académica, corria também o mundo na peugada dos "Magriços". Naquela hora de desespero do seu menino mais querido, Fernando pousou as máquinas e acorreu ao amigo como os Homens fazem. Perdeu o "boneco" mas também ganhou o seu lugar na história. Formidável.

ps. Existe no mercado uma mão cheia de livros repletos de interessantes foto sobre o assunto. Algumas das acima podem ser adquiridas em " Football", de Nick Yapp, edição Konemann

1 comentário:

  1. sim, as imagens documentam também a passagem do jogo a espectáculo mediático.

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